As alterações repentinas do ambiente macroeconómico têm levado a alterações rápidas e significativas das taxas de juro, na expectativa de conseguirem fazer face, em especial, à elevada inflação que se vive nos dias de hoje. Na realidade, o impacto é direto no poder de compra das pessoas, o que poderá afetar indiretamente o mercado imobiliário. A lógica é simples:
- Se o dinheiro está mais caro, o banco empresta menos;
- Se a inflação é alta, as pessoas gastam mais comprando o mesmo. Mantendo o mesmo salário, ficam com menos para investir;
- Se ainda assim quiserem avançar para a compra de algo, terão obrigatoriamente de investir menos pela menor disponibilidade financeira.
Este racional linear leva-me a crer que existirá um impacto direto na procura por imóveis e, indiretamente, no preço de venda dos mesmos, dificultando a manutenção do clima de subida de preços verificado há já vários anos.
Partilho hoje uma notícia do Expresso que, de alguma forma, dá suporte a este racional.
Citibank prevê grandes subidas das taxas de juro nas duas próximas reuniões do BCE
O Banco Central Europeu (BCE) deverá aumentar de forma marcada as taxas de juro diretoras nas próximas duas reuniões, preveem os analistas do Citibank, numa altura em que os mercados já estão preparados para a mais que provável eventualidade de a instituição de Frankfurt poder subir a taxa de juro em 75 pontos-base na reunião de 8 de setembro.
Segundo a Bloomberg, que cita o analista do banco norte-americano Antoine Gaveau, o BCE deverá aumentar as taxas de juro em 75 pontos-base nas reuniões de política monetária de 8 de setembro e de 27 de outubro, colocando a taxa diretora em 1,5%.
“Na nossa opinião, um ciclo de aperto rápido (mas potencialmente curto) é um cenário de referência convincente (…), os ‘falcões’ ganharam quase todos os debates nos últimos meses", disse o analista na nota.
Contudo, mais aumentos depois do ano novo são uma eventualidade “muito incerta”, crê. Se a procura diminuir e os problemas na oferta, como a destruição das cadeias de abastecimento e os constrangimentos relacionados com a guerra na Ucrânia, fizerem com que a subida de preços comece a abrandar, não serão necessários mais ajustes na política monetária.
O analista recomenda, por isso, uma aposta em swaps indexados à taxa de juro de outubro, produtos financeiros que permitem aos investidores protegerem-se face à eventualidade de subidas, segundo a agência.
Os mercados já tomam como quase certa a possibilidade de um aumento de 75 pontos-base na taxa de juro de referência na reunião de setembro do BCE, depois de responsáveis do banco central liderado por Christine Lagarde terem vindo a terreiro defender a necessidade de apertos na política monetária, como Isabel Schnabel, da comissão executiva do BCE, no encontro de banqueiros centrais de Jackson Hole, nos Estados Unidos.
in Expresso, 2/9/2022